A cria de roaz do rio Sado encontrada morta há uma semana foi agredida por animais da mesma espécie, um comportamento que nunca tinha sido detetado nesta população, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas
A cria de roaz Sapal, nascida no início do mês, foi observada a 16 de agosto a ser transportada, já morta, pela mãe e no dia seguinte os técnicos do ICNF na Reserva do Estuário do Sado recuperaram o corpo que foi submetido a necrópsia.
O exame encontrou várias lesões relacionadas com agressão violenta, em diversas partes do corpo da cria de roaz. "A observação macroscópica revelou a existência de lesões relacionadas com agressão violenta", refere um comunicado do ICNF.
No dia anterior à deteção da cria morta, o ICNF foi alertado por uma das empresas de observação de cetáceos para um comportamento estranho envolvendo três roazes jovens que "empurravam" a cria Sapal para a superfície.
Este comportamento assemelhava-se àquele realizado pelos animais adultos, sobretudo as fêmeas, em situações em que as crias se encontram em dificuldades.
Embora "estranho" e inédito entre a população do Sado, "foi interpretado como podendo ser um comportamento lúdico (brincadeira), tanto mais que quando a cria era observada a nadar e a respirar sozinha junto da progenitora e de outros adultos aparentava um comportamento normal", explica o INCF.
"A existência de comportamentos agonísticos (agressão) entre cetáceos da mesma espécie (por exemplo entre roazes) e entre espécies diferentes (por exemplo ataques de roazes a botos) está documentada em bibliografia da especialidade, mas tal comportamento não tinha ainda sido presenciado na população do Sado", salienta.
O ICNF voltou a alertar os utilizadores do estuário do Sado para a necessidade de cumprimento do código de conduta da observação de cetáceos, sobretudo nos aspetos relacionados com as distâncias, modo de aproximação aos roazes e número de embarcações em observação simultânea.
A população de roazes residente no estuário do Sado é única em Portugal e uma das poucas existentes na Europa.