Os cães, independentemente da raça e do sexo, apesar do processo de domesticação ter começado em torno de dez a doze mil anos atrás e posteriormente com o conjunto das descobertas paleontológicas modernas, ainda apresentam comportamentos correspondentes aos instintos próprios à maioria dos canídeos.
A domesticação dos nossos companheiros de quatro patas, “canis familiaris”, os tornou mais adaptáveis ao convívio com o ser humano. Eles perderam a maioria dos medos e desconfianças naturais aos animais selvagens e aprenderam a entender e se adaptar aos nossos sinais não verbais e até a associá-los aos verbais que emitimos junto. Assim, desenvolveram uma capacidade de interpretar facilmente, nem tanto o sentido, mas sim as consequências de parte do nosso vocabulário, sobretudo quando associado a tons acentuados bastantes significativos, o que levou a influenciar e até modificar certos comportamentos por adaptação.
Mas os cães continuam canídeos, ou seja, mesmo variando em intensidades diferentes de um para outro, em função do histórico do próprio animal, das circunstancias e do contexto em que evoluem, todos os cães podem apresentar excepcionalmente ou frequentemente comportamentos instintivos, atávicos e próprios à espécie canina em geral, inclusive comportamentos agressivos.
O comportamento agressivo é tudo aquilo que tem como objetivo intimidar ou machucar uma pessoa ou outro animal, sendo a agressividade um sinal comportamental comum e que raramente tem origem exclusivamente orgânica.
Por isso é importante que os proprietários tenham o cuidado de avaliar exaustivamente a personalidade da(s) sua(s) mascote(s) e fazer o necessário a fim de evitar possíveis acidentes.
Frente a qualquer situação a qual é confrontado, que ele a provocou ou não e pode incomodá-lo ou até amedronta-lo, o cachorro tem as opções a seguir: Se afastar ou fugir, desviar ou esquivar, se submeter ou enfrentar.
No caso de ataques com mordidas, qualquer que seja o alvo e mais frequentemente contra crianças ou outros animais, a agressividade pode ocorrer por: predação, competição, medo, desconfiança, ou seja, em reações as atitudes invasivas ou ofensivas aos mesmos.
Como as crianças ainda estão aprendendo sobre o mundo e a exploração faz parte dessa fase de crescimento e descobrimento, elas se tornam mais vulneráveis por não entenderem que suas atitudes podem ser interpretadas erroneamente pelos pets.
E os pais e responsáveis, por desconhecerem o comportamento canino, falham em compreender que determinadas ações que representam uma forma de carinho na interação entre humanos, como abraços e beijos, para os cachorros podem ter um caráter intimidador.
Preocupados com o alto índice de casos que envolvem mordidas e ataques caninos contra crianças, separamos fotos que ilustram e revelam vários exemplos de atitudes invasivas e/ou ofensivas da parte dos pequenos.
São 10 situações muito comuns de acontecer nas interações entre crianças e cães e que podem criar riscos e resultados indesejados.
1. Primeiro encontro e o toque
As mãos vindas à sua direção sempre podem representar uma forma de invasão e até uma ameaça para o cão.
Quando vindo de cima, se aproximando de frente para o rosto ou repentinamente podem ser consideradas como ofensivas.
Sobretudo quando a criança não é conhecida do animal, ou se existem antecedentes de competição, ameaças ou medo entre essa criança e aquele cão.
Ainda mais no caso de um animal pouco ou mal socializado com crianças ou já apresentando desconfianças excessivas ou episódios de agressividade, mesmo somente com ameaças, não perfeitamente explicadas e/ou modificadas.
Pior quando a criança, tentando imitar os parentes, pretendem ameaçar ou corrigir e até bater nos animais, ai a reação é mais que previsível.
2. Contato visual forçado
Forçar o contato visual de cães com tendência a competir com outros ou disputar a atenção das pessoas ao seu redor, proprietários e outros, pode ser registrado como desafiador e provocar uma reação agressiva com eventual mordida, ainda mais no caso de um animal não perfeitamente socializado com crianças (conferir o histórico do mesmo).
Nesse caso, o animal vai encarar fixamente a criança, erguendo o busto e a cabeça, podendo até se levantar, encher o peito e se arrepiar para aumentar o seu volume corporal e o aspecto impressionante da postura. Em seguida ele poderá ameaça-la mostrando os dentes, eventualmente acentuando a ameaça com rosnados até atacar a criança.
É claro que, se o animal tentar se afastar e demonstrar uma postura retraída, ele está mostrando desconforto e pretende evitar a situação. Se for acuado, sem possibilidade de esquivar ou fugir ele poderá muito bem se defender mordendo.
Vale a pena ressaltar que, qualquer que seja o motivo, nem sempre o cachorro vai proceder a um ritual completo de ameaças antes de morder. Muitas vezes eles aprenderam muito cedo que a nossa espécie não interpreta e não reage adequadamente às ameaças não verbais, posturais ou gestuais, e somente respondemos da maneira que eles esperam quando somos mordidos.
Sobretudo no caso de animais com histórico de agressões ativas ou defesas reativas formalizadas por mordidas, eles rapidamente passam ao ato final com o mínimo de avisos ou até mesmo sem mais nenhuma ameaça, o que os tornam ainda mais imprevisíveis e perigosos.
3. Abraços
Abraços, principalmente os que podem sufocar no pescoço, podem deixar o cão desconfortável, se sentindo vulnerável.
Uma das situações que podem provocar reações muito violentas é aquela onde o animal é manipulado contra a sua vontade.
Pior nos casos de abraços indesejados, quando o animal pode achar que a criança quer segurá-lo ou asfixiá-lo, despertando assim o instinto primário de sobrevivência e reações ainda mais acentuadas pela influência das descargas de adrenalina.
Quando não ostensivamente ensinado e constantemente acostumado a aceitar manipulações físicas das mais diversas, inclusive aquelas que podem representar um constrangimento ou um entrave a sua liberdade e, no caso, uma eventual ameaça às funções vitais do animal.
4. Beijos
Por razões similares, “o beijo”, outra interação muito comum entre humanos, deve ser devidamente monitorada entre um cachorro e uma criança.
O animal pode achar que a criança quer mordê-lo ou desafiá-lo.
Os cães aproximam a boca das partes traseiras dos outros quando estão querendo fazer uma saudação e um reconhecimento do outro através do olfato, com atitudes e posturas respeitosas e intenção claríssima para qualquer canídeo.
Já quando começam investigando em direção ao rosto do outro as intenções não são amigáveis ou respeitosas e sim provavelmente para desafiar e/ou ameaçar.
No caso de filhotes ou de cães de posição hierárquica inferior, as lambidas dos lábios dos adultos ou dos animais dominantes são efetuadas de baixo para cima e do lado dos lábios, nunca de frente, nem de cima e acompanhadas de atitudes e posturas de apaziguamento e submissão específicas e claríssimas para todos.
5.Mão na boca
Mais uma vez o tato da criança em ação, dessa vez explorando dentro da boca do cachorro.
É claro que a expressão “ninho de cobra” é perfeita para ilustrar essa situação.
Se o animal for perfeitamente socializado, habituado a manipulações e condicionado a associá-las a algo prazeroso pode ser confiável com crianças que já conhece ou na presença de um tutor que o controle perfeitamente.
Se não é dar a mão para um “ninho de cobras” combina ameaça, invasão e desafio: mistura explosiva.
6. Sentando em cima do cachorro
Sentar em cima do cão pode fazê-lo sentir preso e acuado, já que está impedido de se mover livremente e expondo-o a uma posição vulnerável. Diante dessa situação, o cachorro pode reagir para conseguir se desvencilhar.
O peso do corpo da criança também pode machucar o cachorro. No caso da foto com a criança cavalgando no cachorro, as costas do animal estão sobrecarregadas, podendo causar lesões graves.
O que pode parecer uma brincadeira para quem está de fora, na verdade é uma situação geralmente desconfortável para o pet.
7. Agressões
Para a criança que não tem a noção e o conhecimento correto de como lidar com o cachorro, puxar o pelo do animal e explorar com a boca, nesse caso mordendo, pode ser uma forma de interagir e lidar com o novo companheiro.
Pelos motivos óbvios, além da dor causada por uma mordida ou pelo puxão no pelo, imediatamente o animal perceberá aquela situação como ameaçadora e/ou desafiadora.
Suas reações serão sair ou lutar, dependendo de seu temperamento e o quão intimidado e em perigo está se sentindo. O resultado dessa troca pode ser muito sério.
8.Dormindo junto
Cães dormindo com bebês pequenos, podendo assim haver um acidente. Supervisão.
Se a criança é pequenina e o animal for um mínimo protetor isso não oferece muitos riscos.
A não ser no caso de animais medrosos ou incomodados com crianças pequenas, cuja grande importância da socialização dos animais com todo tipos de pessoas e animais desde sempre.
Outro caso perigoso é aquele da chegada de um recém-nascido dentro do lar e o animal, que até então era o centro das atenções e das demonstrações afetivas, em lugar de condicionado a associar o mesmo a eventos agradáveis e prazerosos passa a ser frequentemente rejeitado e hostilizado por seus tutores humanos desde a chagada do neném.
Aconselho a preparar o cachorro para a chegada de um recém-nascido, um hospede temporário ou a adoção de um outro animal com bastante antecedência.
9.Crianças animadas perto de cães dormindo
Se o animal for equilibrado e tiver a possibilidade de se afastar para um canto tranquilo, onde a criança não terá acesso ou já aprendeu a respeitar, não acontecerá nada.
Agora se o animal for de temperamento inquieto, hiper reagente ou não tiver onde se isolar a reação pode ocorrer com ou sem aviso, nem ameaça e o ataque pode ser fulminante, o cão mordendo rapidamente e violentamente respondendo a um reflexo programado de defesa instintiva.
10.Crianças mexendo na comida do cão
Caso clássico de ataque de cães a crianças em resposta aos instintos primários de sobrevivência.
Desde que começam a se alimentar de outra coisa do que o leite maternal os animais mais velhos os corrigem de forma clara quando se aproximam da refeição que eles estão fazendo, como forma de ensiná-los a hierarquia, os dominantes se alimentando antes dos outros que esperam as sobras dos mesmos para poderem se alimentar.
Assim crianças podem ser mordidas mesmo quando elas mesmas trazem a refeição para o animal e não se afastam ou não o deixam se alimentar tranquilo depois.
Se o cachorro pode competir por alimentos, ele também pode defender objetos e espaço dentro do lar e assim chegar a ameaçar e morder crianças se aproximando desses lugares ou tentando pegar tais objetos, mesmo se a intenção seria de brincar com o próprio cachorro.