Ainda existem muitos mitos, considerações e dizeres fantasiosos no assunto dos cães em geral e de certas raças em particular. O pior é que geralmente quem sofre mais desse tipo de discriminações são os animais.
De fato, os mitos e as crenças são os grandes culpados por uma parte das pessoas, criadores ou não, ainda acharem que os animais, inclusive os cães, são seres inferiores, com inteligência limitada a aptidões unicamente associativas de causa a efeitos, isentos de sentimentos e por isso podem ou devem ser considerados e tratados de forma grosseira, ver abusiva.
O processo de domesticação, iniciado em torno de dez mil a doze mil anos atrás, assim que a evolução da sociedade humana, levaram os cães domésticos a passar do estatuto de ferramenta, servo do ser humano, a conviverem sempre mais perto dentro dos lares e até, muitas vezes, considerados como membros da família.
Só que, por ter considerado os animais como serviçais cativos por tanto tempo, a maioria ainda ignora ou desconhece muitas realidades do “melhor amigo do ser humano”.
Felizmente essa recente mudança de posição dentro das famílias humanas obra em favor deles.
Além do lado emocional dos proprietários, a curiosidade e evolução do meio cientifico e, principalmente, o crescimento exponencial do mercado e seus resultados econômicos fabulosos impulsionaram pesquisas e descobertas concretas e edificantes sobre, entre outras, a inteligência, as emoções, os sentimentos e as necessidades que lhes são próprios.
Vários resultados dessas pesquisas e descobertas, anteriormente pressentidos pela grande maioria dos proprietários convivendo com proximidade e diariamente com os seus cães, já são amplamente aceitos e comprovados, tais como:
Inteligência
O melhor amigo do homem tem capacidade de resolver problemas complexos e é mais parecido com os humanos e outros grandes primatas do que se pensava.
Segundo diversas medidas de comportamento, a capacidade mental do cachorro está próxima à de uma criança de dois anos e meio de idade.
Existem três tipos de inteligência canina:
1) De trabalho e obediência (equivalente a aprendizagem escolar);
2) Os cães se comunicam com vocalizações, atitudes e certos sinais, notadamente olfativos (marcações e micções);
3) Para concluir os cães pensam, raciocinam, decidem.
Seus mecanismos mentais não são idênticos aos nossos e possuem seus limites.
Mas disso a concluir que o cão somente seguem seus instintos ou condicionamentos, é negar os fatos relatados pelos criadores e os estudos científicos.
Realidade emotiva
Vale sempre lembrar que os cães não possuem sentimentos no sentido que nós entendemos. Por exemplo, um cão que destruiu a casa não o fez por vingança.
A vingança, a traição, a crueldade etc são conceitos exclusivamente humanos, não de outras espécies.
Os estudos da psicologia canina comprovam que o cão é capaz de sentir emoções, ansiedade e estresse, assim como os humanos.
Era previsível, por serem sensações relacionadas ao sistema nervoso central, que funciona da mesma maneira para as duas espécies.
O cão sente emoções que vão desde a alegria à dor, passando pela excitação e o desespero.
Alegria e tristeza são emoções fáceis de observar e compreender nos cães, elas costumam aparecer claramente.
Infelizmente, é difícil avaliar sensações “secundárias”, como ansiedade e estresse.
No cão, ouvimos sempre mais falar sobre a ansiedade de separação, em que o sujeito está passando por uma fase de estresse emocional causado pela separação dos proprietários.
A ansiedade pode aumentar aos poucos, como quando o cão entende que o seu dono vai sair.
A área límbica do cérebro, nos casos de ansiedade, provoca uma forte emotividade, resultando em diferentes estados, como medo, irritação e agressividade.
Existem vários tipos de estresse fisiológico (trauma, hemorragia, fraturas e doenças), bem como o estresse emocional, particularmente em casos de conflito.
Nos cães, o estresse pode simplesmente ser o resultado de tédio, o excesso de energia não aliviada, uma relação conflituosa com os proprietários, o uso e abuso de punição, técnicas de educação e treinamento criando uma pressão psicológica forte nos animais.
Em conclusão vamos esquecer mitos e lendas e voltar a estudar e pesquisar. O conhecimento e a informação sempre trazem uma compaixão crescente da parte das pessoas, soluções eficientes e melhorias notáveis nas interações que vão beneficiando ambas as espécies.
A boa convivência, a nossa consideração com os animais e o tratamento que os humanos oferecem para eles exigem mudanças urgentes e importantes.
Talvez então nós poderíamos ser considerados como “o melhor amigo deles”.