Joanne Tester não sabia tudo sobre o cão da raça Greyhound (Galgo) ex-competidor que ela havia adotado. Ela sabia que o cão tinha sido utilizado em oito corridas antes de uma lesão no pé. Após o machucado, o cão não poderia mais correr e por isso ele foi deixado pelo seu próprio em um abrigo em New South Wales, na Austrália.
O cão passou seis meses no abrigo Animal Welfare League antes de ser adotado. Apesar de os voluntários do lugar estarem sempre tentando fazer o melhor para cuidar dele, o animal vivia em um constante estado de stress, o que o fez perder cerca de 10 quilos. O animal também desenvolveu úlceras de pressão por ficar deitado por tanto tempo em um piso de concreto e, além disso, estava com dentes quebrados e precisou fazer a remoção deles. Os dentes do cão estavam quebrados pelo fato de o animal, por conta do estresse, ter mastigado seu próprio canil.
Quando Joanne conheceu o cão, a quem ela deu o nome de Fastfeet (pés rápidos), em 2011, logo soube que queria adotá-lo. “Eu podia ver o que ele era um cão incrível. Ele só precisava aprender a ser um animal de estimação e não um cão de corrida”, disse ela ao site The Dodo.
O que Joanne não sabia, no entanto, era como o cão iria se comportar convivendo com outros animais. Ela já tinha três cães e três gatos e ajudava o CatRescue901, um grupo de resgate dirigida por Jenny Storaker.
Os cães do tipo Galgo, conhecidos também como galgos, costumam ser criaturas amáveis e tranquilos, porém as pessoas envolvidas na indústria de corridas de galgos na Austrália têm utilizados práticas horríveis, como a conhecida por “isca viva” ou “blooding” (sangramento) para treinar os seus cães para as corridas.
No ano passado, uma investigação revelou que os treinadores rotineiramente usam gambás, gatinhos, leitões e coelhos como iscas, que são lançados ao longo da pista. Para as corridas, os cães são treinados a perseguir os animais e, eventualmente, matá-los. Esse tipo de treinamento é ilegal na Austrália há décadas, mas acredita-se que a maioria dos treinadores ainda fazem uso desta técnica.
Sabendo disso, Joanne sabia que precisaria tomar ainda mais cuidado em relação a Fastfeet com seus outros animais. Quando ela mostrou Fastfeet a seus outros cachorros, todos pequenos, pela primeira vez, ela colocou uma focinheira nele. Sempre que Fastfeet iria se juntar aos outros cães da casa ele usava a focinheira. O aparato foi deixado de lado 12 meses depois, quando Fastfeet começou a agir com calma em relação aos outros cachorros. Assim que Joanne soube que podia confiar no cão completamente. Agora, os cães se dão tão bem que dividem até as camas.
Por um longo tempo, Joanne manteve os gatos em uma parte separada da casa, e não pensou em apresentá-los a Fastfeet. Mas depois de ver o quão bem Fastfeet ficou junto aos outros cachorros, ela decidiu tentar.
“Eu resolvi deixar um dos meus gatos sair para que Fastfeet conseguisse vê-lo e eu pudesse ver a reação dele. Assim que viu o gato, ele quis persegui-lo. Eu não sei se ele teria machucado o gato, mas ele definitivamente mostrou muito interesse por ele”, contou Joanne ao The Dodo.
A mulher começou, então, um longo processo de dessensibilização de Fastfeet em relação aos gatos, o que levou quase um ano. Após várias reuniões supervisionadas entre Fastfeet e os gatos (durante as quais o cão sempre usava sua focinheira), Joanne finalmente permitiu que os gatos chegassem perto do cão. O primeiro encontro foi muito bem. Fastfeet foi extremamente gentil com os gatos e até deixou que eles rastejassem por cima dele.
Entre todos os animais de Joanne foi um gato em particular – um gato adotivo chamado Indi – que fez Fastfeet se apaixonar. Indi tinha sido resgatado após ser encontrado vagando pelas ruas de Sydney com uma grave gripe do gato. Ele tinha desenvolvido uma infecção tão ruim da gripe que seus olhos tiveram que ser removidos.
Quando Joanne trouxe Indi casa para lhe dar um lar temporário, ela o manteve isolado para que ele pudesse se recuperar de sua operação. Mas quando Fastfeet entrou sorrateiramente no quarto de Indi, os dois animais tiveram uma ligação instantânea. Eles acabaram passando quase o dia inteiro juntos, e todos os outros dias depois disso. Eles dormiram juntos e abraçados. Após estar recuperado e liberado para passear na área externa da casa, Indi foi passear ao redor do jardim com Fastfeet. Eles se deitaram juntos no sol e quando o gato se assustou com o barulho de um carro, ele logo correu para Fastfeet procurando proteção.
Quando chegou a hora de Indi ser adotada por uma nova família, Joanne sabia Fastfeet sentiria muita falta dela. Mas o amor de Fastfeet por gatos não parou com Indi, ele formou um vínculo com todos os gatos resgatados que ficam na casa de Joanne. “Ele só quer estar no quarto com eles. Ele se senta em seu cobertor e os gatos rastejam em cima dele. Estou começando a pensar que ele acredita que ele é um gato”, diz Joanne.
Fastfeet também é muito protetor com os gatos adotivos quando outras pessoas vêm para vê-los. “Sempre que as pessoas vêm para ver os gatos, ele sempre sabe e quer ser parte da apresentação. Se ele não está na sala, ele fica triste e chora na porta”, contou Joanne.
Infelizmente, a corrida de cães ainda é uma grande indústria no mundo todo. De acordo com organizações de salvamento de cães da raça galgo em Minnesota, entre 3.000 e 9.000 galgos morrem sozinhos a cada ano só nos Estados Unidos. Joanne espera que a história de Fastfeet possa inspirar outras pessoas a adotar cães que participavam de competições, assim como aconteceu com Fastfeet. “Adotar Fastfeet foi a melhor coisa que eu já fiz e eu não consigo mais imaginar esta casa sem ele”, completa Joanne.
Fonte: The Dodo