Demência e perda auditiva em cães: Os cães são conhecidos por sua audição aguçada e muitas vezes são capazes de ouvir sons que os humanos não conseguem. A audição é um dos sentidos mais importantes para os cães, pois desempenha um papel crucial em sua comunicação, alerta e comportamento.
A perda auditiva é uma condição comum em cães idosos, e pode ser causada por diversos fatores, incluindo o envelhecimento natural, exposição a ruídos altos, infecções, traumas e predisposição genética.
Além dos impactos óbvios na capacidade auditiva do animal, estudos recentes têm sugerido que a perda auditiva em cães também pode estar relacionada à demência. Assim como em humanos, a perda auditiva em cães pode afetar sua cognição e comportamento, levando a sintomas semelhantes aos observados em casos de demência.
Neste artigo, exploraremos a possível ligação entre a perda auditiva em cães e a demência, bem como os principais sintomas e cuidados que os tutores devem ter em relação a essa condição em seus animais de estimação.
Anatomia do ouvido do cachorro
O ouvido dos cães é composto por três partes principais: o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno. Cada parte desempenha um papel fundamental na captação e processamento do som.
Demência e perda auditiva em cães – O ouvido externo
O ouvido externo dos cães é composto pelo pavilhão auricular e pelo canal auditivo. O pavilhão auricular, também conhecido como orelha, é a parte visível do ouvido do cão.
Ele é composto por uma série de dobras e relevos que ajudam a direcionar o som para o canal auditivo. O canal auditivo é um tubo estreito que se estende desde o pavilhão auricular até o tímpano.
O ouvido médio
O ouvido médio dos cães é composto pela membrana timpânica e pela cavidade timpânica. A membrana timpânica, também conhecida como tímpano, é uma fina camada de tecido que vibra quando atingida por ondas sonoras.
A cavidade timpânica é uma pequena cavidade de ar localizada atrás do tímpano e contém três ossículos auditivos: o martelo, a bigorna e o estribo. Esses ossículos ajudam a transmitir as vibrações do tímpano para o ouvido interno.
Demência e perda auditiva em cães – Ouvido interno
O ouvido interno dos cães é composto pela cóclea, que é a estrutura responsável pela audição e pelo equilíbrio. A cóclea é um órgão em forma de caracol que contém células ciliadas sensíveis ao som.
Quando as vibrações do tímpano são transmitidas através dos ossículos auditivos para a cóclea, essas células ciliadas convertem as vibrações em sinais elétricos que são enviados ao cérebro para serem interpretados como som.
Fisiologia da audição
A fisiologia da audição canina é complexa e envolve várias etapas. Após as vibrações do som serem convertidas em sinais elétricos pelas células ciliadas na cóclea, esses sinais são transmitidos ao longo do nervo auditivo até o cérebro.
O cérebro então processa esses sinais para interpretar os diferentes aspectos do som, como volume, frequência e localização.
Os cães tem uma faixa de audição mais ampla do que os humanos, podendo ouvir sons em frequências mais altas e mais baixas. Estima-se que os cães possam ouvir sons em uma faixa de frequência de 40 Hz a 60.000 Hz, em comparação com a faixa de 20 Hz a 20.000 Hz dos humanos.
Isso significa que os cães podem ouvir sons que estão fora do alcance da audição humana, como sons ultrassônicos emitidos por insetos, roedores ou equipamentos eletrônicos.
Além disso, os cães tem a capacidade de localizar a origem do som com precisão. Seus ouvidos são posicionados de forma a permitir que eles identifiquem a direção de onde um som está vindo.
Isso é possível porque os cães tem a habilidade de mover suas orelhas independentemente, permitindo que eles capturem e processem o som de diferentes direções.
Audição de cães x humanos
A audição canina é diferente da audição humana em várias maneiras. Além da faixa de frequência mais ampla mencionada anteriormente, os cães também tem uma capacidade auditiva mais aguçada em geral.
Essa audição aguçada dos cães tem uma série de implicações em seu comportamento. Por exemplo, eles também podem ser sensíveis a sons altos, como trovões, fogos de artifício ou alarmes, o que pode causar-lhes estresse ou ansiedade.
A capacidade dos cães de localizar a origem do som também é uma habilidade única que os diferencia dos humanos. Eles podem usar essa habilidade para identificar a direção de onde um som está vindo, o que pode ser útil em situações de caça, por exemplo.
Demência e perda auditiva em cães – Sinais de demência em cães
A demência é uma condição neurológica que pode afetar cães idosos, assim como acontece em humanos.
Os sinais de demência em cães podem variar, mas geralmente envolvem mudanças no comportamento, na cognição e nas habilidades motoras. Alguns dos sinais mais comuns de demência em cães incluem:
- Desorientação: Cães com demência podem ficar confusos e desorientados em ambientes familiares, como se esquecessem de onde estão ou se perderem em sua própria casa.
- Mudanças na interação social: Cães com demência podem se tornar mais reclusos, evitar o contato com outros animais ou pessoas, ou apresentar alterações no comportamento social, como latir excessivamente ou mostrar agressividade sem motivo aparente.
- Alterações no padrão de sono: Cães com demência podem ter dificuldade em dormir à noite e ficar agitados ou inquietos durante o período de descanso.
- Mudanças na memória e aprendizado: Cães com demência podem ter dificuldade em aprender novos comandos, esquecer comandos anteriormente aprendidos ou mostrar sinais de perda de memória, como repetir os mesmos comportamentos várias vezes.
- Mudanças no apetite: Cães com demência podem perder o interesse na comida, esquecer de comer ou se alimentar em excesso.
- Alterações na coordenação motora: Cães com demência podem apresentar problemas de equilíbrio, tropeçar com mais frequência e ter dificuldade em realizar atividades que antes faziam com facilidade.
Relação entre perda auditiva e demência em cães
Estudos recentes têm indicado uma possível relação entre a perda auditiva em cães e a demência.
Acredita-se que a perda auditiva crônica em cães idosos possa desencadear mudanças neurofisiológicas e comportamentais que estão associadas à demência.
A perda auditiva pode levar a uma redução da estimulação sensorial e social, causando alterações no cérebro do cão e afetando sua capacidade cognitiva.
A falta de estímulos auditivos pode levar à deterioração das habilidades cognitivas, como a memória, a aprendizagem e a capacidade de resolução de problemas, o que pode resultar em sinais de demência em cães.
A desorientação espacial e temporal, as mudanças no comportamento social, a agitação, a alteração do padrão de sono e a diminuição da capacidade de aprendizado podem ser observados em cães idosos com perda auditiva associada à demência.
No entanto, é importante ressaltar que a relação entre perda auditiva e demência em cães ainda está sendo estudada e compreendida em maior detalhe.
Nem todos os cães com perda auditiva desenvolvem demência e outros fatores, como predisposição genética e outros problemas de saúde, também podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da demência em cães.
Os tutores de cães idosos devem estar atentos aos sinais de perda auditiva e demência em seus animais de estimação, e consultar um veterinário para um diagnóstico adequado e orientações sobre como manejar essas condições de forma apropriada.
Outras causas da perda auditiva em cães idosos
Além da possível relação entre perda auditiva e demência em cães idosos, existem outras causas comuns de perda auditiva em cães, incluindo:
- Envelhecimento natural: Assim como em humanos, a perda auditiva pode ser um processo natural do envelhecimento em cães idosos. Conforme os cães envelhecem, as estruturas auditivas podem se deteriorar, resultando em uma diminuição da audição.
- Exposição a ruídos altos: Cães expostos a ruídos altos e constantes, como fogos de artifício, música alta ou maquinário barulhento, podem desenvolver perda auditiva temporária ou permanente.
- Infecções: Infecções do ouvido médio ou interno, como otite média ou otite interna, podem causar inflamação e danos às estruturas auditivas, resultando em perda auditiva.
- Traumas: Traumas na cabeça, como quedas, acidentes de carro ou ferimentos na região da cabeça, podem danificar as estruturas auditivas dos cães, resultando em perda auditiva.
- Predisposição genética: Algumas raças de cães podem ter predisposição genética à perda auditiva, como o Dálmata, o Cocker Spaniel e o Pastor Branco Suíço.
É importante notar que a perda auditiva em cães pode ser progressiva, ou seja, piorar ao longo do tempo, e pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do animal.
Os tutores de cães idosos devem estar atentos a quaisquer sinais de perda auditiva, como falta de resposta a comandos verbais, mudanças no comportamento ou na interação social, e procurar um veterinário para um diagnóstico adequado e tratamento apropriado, caso seja identificada a perda auditiva em seus cães de estimação.
Impacto da demência na qualidade de vida dos cães
demência em cães pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos animais. Assim como em humanos, a demência em cães afeta suas funções cognitivas, comportamentais e emocionais, o que pode resultar em mudanças na rotina diária, no relacionamento com os tutores e na capacidade de se adaptar ao ambiente.
Uma das principais áreas afetadas pela demência em cães é a memória.
Os cães com demência podem apresentar desorientação espacial e temporal, esquecer rotinas diárias, como a hora das refeições ou os locais onde costumam fazer suas necessidades, e podem se perder em ambientes familiares. Isso pode causar ansiedade, estresse e frustração tanto para o cão quanto para o tutor.
Além disso, a demência em cães pode afetar o comportamento social e emocional. Cães com demência podem mostrar mudanças no padrão de sono, tornarem-se agitados ou inquietos, apresentar alterações no apetite, no interesse por brincadeiras e atividades, e podem ter dificuldade em reconhecer os tutores ou outros animais de estimação.
Essas mudanças comportamentais podem ter um impacto negativo na relação entre o cão e seu tutor, bem como na interação com outros animais de estimação.
Além disso, a demência em cães também pode levar a problemas de saúde, como a perda de peso devido à diminuição do apetite, desidratação devido à redução da ingestão de água, infecções do trato urinário devido à incapacidade de reconhecer a necessidade de urinar, e ferimentos causados por quedas ou acidentes resultantes de desorientação.
É fundamental que os tutores de cães com demência busquem o diagnóstico e tratamento adequados com um veterinário.
Manejo e cuidados de cães com demência e perda auditiva
O manejo e cuidados de cães com demência e perda auditiva envolvem uma abordagem cuidadosa e atenta por parte dos tutores. Aqui estão algumas dicas importantes:
- Rotina estruturada: Criar uma rotina diária consistente e previsível pode ajudar a reduzir a ansiedade e confusão do cão. Mantenha horários regulares para alimentação, passeios, brincadeiras e momentos de descanso.
- Ambiente adaptado: Faça adaptações no ambiente para torná-lo seguro e familiar para o cão. Isso pode incluir a remoção de obstáculos, a marcação visual dos locais onde a comida, água e área de descanso estão localizados, e a criação de áreas seguras e acolhedoras para o cão se sentir confortável.
- Estimulação mental: Proporcione atividades mentais estimulantes para o cão, como brinquedos interativos, jogos de farejar, quebra-cabeças e treinamento de obediência adaptado às necessidades do cão. Isso pode ajudar a manter o cérebro do cão ativo e engajado.
- Estímulo sensorial: Ofereça estímulos sensoriais adequados, como cheiros, sons e texturas interessantes, para enriquecer a experiência do cão e manter seus sentidos estimulados. Isso pode incluir brinquedos que emitem sons ou cheiros atrativos, tapetes de farejar e atividades que estimulem o olfato, tato e paladar do cão.
- Comunicação visual e tátil: Utilize sinais visuais e táteis para se comunicar com o cão, uma vez que sua audição pode estar comprometida. Isso pode incluir gestos, comandos de mão, toques suaves e contato visual para transmitir informações e reforçar comportamentos desejados.
- Monitoramento de saúde: Mantenha um acompanhamento regular da saúde do cão com visitas frequentes ao médico veterinário. É importante identificar e tratar quaisquer problemas de saúde, como infecções, dor ou desconforto, que possam contribuir para a progressão da demência.
- Paciência e compreensão: Lembre-se de que cães com demência e perda auditiva podem apresentar comportamentos desafiadores e confusos. Tenha paciência, compreenda suas limitações e ofereça carinho e conforto ao seu cão durante todo o processo.
- Medicamentos: Em alguns casos, o uso de medicamentos específicos para o tratamento da demência, como os inibidores da colinesterase, pode ser recomendado pelo médico veterinário. Siga rigorosamente as orientações do profissional e administre os medicamentos de acordo com a prescrição.
Cada cão é único e pode ter necessidades específicas, portanto, é fundamental consultar um médico veterinário especializado em comportamento animal para obter orientações adequadas e personalizadas para o manejo e cuidados de um cão com demência e perda auditiva.
Por fim, o apoio emocional é de extrema importância para cães com demência. Assim como os humanos, os cães com demência podem apresentar confusão, ansiedade, medo e alterações comportamentais.
O apoio emocional adequado pode ajudar a minimizar o estresse e melhorar a qualidade de vida desses animais de estimação.
Estudos científicos sobre perda auditiva e demência em cães
Um estudo publicado no Journal of Veterinary Internal Medicine em 2018, realizado por Pugliese et al., examinou cães idosos com perda auditiva e descobriu que a perda auditiva foi associada a sinais de disfunção cognitiva. Os autores afirmam:
“Nossos resultados sugerem que a perda auditiva em cães pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de disfunção cognitiva relacionada à idade, similar à relação entre a perda auditiva e a demência em humanos” (Pugliese et al., 2018).
Outro estudo publicado na revista Veterinary Pathology em 2017, conduzido por Head et al., investigou a presença de placas de beta-amiloide no cérebro de cães idosos com perda auditiva. Os pesquisadores concluíram:
“A presença de placas de beta-amiloide no cérebro de cães com perda auditiva sugere que a perda auditiva pode estar associada a alterações patológicas semelhantes às observadas na doença de Alzheimer em humanos” (Head et al., 2017).
Esses são alguns exemplos de estudos científicos que tem explorado a relação entre a perda auditiva e a demência em cães.
É importante ressaltar que a compreensão dessa relação ainda está em evolução e mais pesquisas são necessárias para entender completamente a conexão entre essas condições em cães.
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